quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sepultura: Kairos

Se você é uma daquelas choronas viúvas dos irmãos Cavalera, que se derrama em lágrimas porque ambos não fazem mais parte do Sepultura (que, para você, nem deveria ter mais este nome, que é uma indignidade que os atuais membros o continuem usando, e blábláblá), sinto em informar que pode ser difícil ter que engolir “Kairos”. O mais recente lançamento de estúdio da banda é impressionantemente bom. Aliás, mais do que isso: é ótimo, é excelente. É o Sepultura (goste você ou não) em ótima forma, visceral, acelerado, intenso, vigoroso. E fazendo metal extremo puríssimo, no melhor espírito de clássicos como “Arise” e “Chaos A.D.”. Sei que você deve achar um pecado que eu esteja fazendo esta comparação. Mas eu não me importo, já que é a verdade nua e crua – tão crua, aliás, quanto a paulada na orelha que “Kairos” oferece a todo fã de boa música. E no final, é isso que importa: quero ouvir música boa, sem interessar quem diabos está tocando a dita cuja. Música boa sempre vai ser música boa. Não precisa ter o sobrenome “Cavalera”.

“Kairos” é mais um álbum conceitual do Sepultura, depois de “Dante XXI” (sobre o livro “A Divina Comédia”) e “A-Lex” (sobre “Laranja Mecânica”, livro que virou o genial filme de Stanley Kubrick). Aqui, no entanto, o conceito sobre o qual a banda trabalhou é rigorosamente outro, muito mais sutil e delicado. “Kairos” é uma expressão grega que quer dizer “momento especial, de grande mudança”. Seguindo por esta linha, o Sepultura analisa a sua própria história, seu passado, seu presente e seu futuro. Aqueles que se debruçarem sobre as letras do novo disco com mais cuidado, poderão facilmente desenvolver uma série de teorias sobre quem são os personagens citados aqui e ali, se Max e Iggor estão sendo mencionados de fato. Não quero, de coração, entrar neste mérito. Deixo esta tarefa para vocês.
O que vale em “Kairos” é perceber que, nesta auto-análise de sua trajetória, o Sepultura (pela primeira vez, trabalhando com a competente produção de Roy Z, que já fez os discos de Bruce Dickinson e do Judas Priest) olhou para as suas origens musicais e foi buscar justamente nas raízes a influência para a sonoridade do disco. Ficaram de lado os flertes com o hardcore e mesmo com um tipo de metal mais experimental, quase nu metal, que andaram rondando os lançamentos mais recentes. Em “Kairos”, o quarteto inspira e respira thrash metal, aquele thrash técnico e raivoso, com a fúria de quem quer mostrar serviço – mas sem soar atado, sem abrir mão de ser um lançamento atual e moderno. E eles conseguem.
O grandalhão Derrick Green já é vocalista do Sepultura há 13 anos, tendo lançado seis discos com a banda. Mesmo assim, continua tendo que aturar as comparações com o trabalho de Max. Sem sentir o peso dos paralelos, ele entrega o que talvez sejam algumas de suas melhores performances no comando do microfone do Sepultura, berrando com os pulmões e com o coração em faixas como “Relentless” e “Born Strong”. Já Jean Dolabella, substituto recente de Iggor nas baquetas do grupo, não fica atrás e mostra a que veio, seja numa cavalgada nervosa como aquela que dá o tom para “No One Will Stand” ou na levada mais ritmada (mas, nem por isso, menos pesada) de “Dialog”.
O grande destaque, no entanto, fica mesmo por conta de Andreas Kisser. O guitarrista, atualmente líder inconteste da banda e seu principal porta-voz, despeja uma coleção de riffs cortantes, intrincados e em alta velocidade, coisa que vinha faltando um tantinho em seus trabalhos mais recentes. Ouvir as aberturas de “Mask” (talvez a melhor música do disco) ou “Embrace the Storm” já dá a exata medida de o que se pode esperar do músico em “Kairos”. É a principal diferença com relação aos lançamentos mais recentes da discografia do grupo e o grande tempero deste álbum.
“Kairos” é o Sepultura enfiando pé no acelerador, sem medo de ser feliz. E a gente espera que continue assim. Com ou sem um sobrenome famoso para servir de assinatura.

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