sábado, 20 de agosto de 2011

Aumenta o Som: 20 anos da Revolução Grunge

 
Seattle, Washington, EUA, 1991.
Você é um adolescente frustrado e entediado que acaba de voltar da escola e liga rapidamente a televisão para assistir à MTV – apenas pela força do hábito, pois na realidade nada lhe é mais desagradável do que os incontáveis clipes de “hair metal” ou as calças de couro do Jon Bon Jovi. Após sintonizar o canal, a sua reação é de espanto ao notar que a imagem na tela não é a do Brett Michaels de batom, mas sim a de um jovem loiro, descabelado e mal vestido que toca guitarra e berra palavras incompreensíveis.
O cenário é uma escola que vai, aos poucos, sendo destruída por uma multidão de estudantes agitados e enlouquecidos. Ao deparar com esse maravilhoso videoclipe, o seu sentimento é aquele de mais profunda gratidão e se sente preenchido por uma sensação de pertencer a algo. Não é mais o último ser vivo de sua espécie.
A situação descrita foi vivida por muitos jovens após assistirem à “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. A música, que faz parte do álbum “Nevermind, marcou para sempre a cultura pop e hoje é considerada o hino de uma geração: a Geração Grunge.





O termo “grunge” surge em meados dos anos 1990 para definir um estilo musical – mais tarde classificado como movimento – nascido em Seattle no final dos anos 1980 e início da década seguinte. O termo deriva da expressão “grungy” (jargão que quer dizer algo como “sujo”, em inglês), e também está relacionado à palavra “garage” (garagem), local em que muitas das bandas do movimento costumavam ensaiar. Reza a lenda que o termo foi cunhado por Mark Arm, do Mudhoney. Entre os principais nomes do estilo estão: Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains, Soundgarden, Hole ,Stone Temple Pilots e o já citado Mudhoney.
O grunge inicia como uma manifestação musical alternativa, em que as bandas lutavam contra o que estava no mainstream. Buscava combater o “hair metal” e suas baladas melosas, devolvendo ao rock a função de compor músicas com temáticas que fossem além de decepções amorosas, apresentando propostas de pensamentos e ideologias – mais ou menos como fez a geração de 1960 com os movimentos de contra-cultura.




Tendo como principal inspiração o hardcore punk e o heavy metal, a sonoridade grunge é crua, com andamentos lentos, harmonias dissonantes e guitarras distorcidas. De forma geral, as letras de suas músicas têm temáticas pessimistas – abordando assuntos como dor, angústia e alienação social – apresentadas de formas sarcásticas, mas que demonstravam um desejo de liberdade.
Defendendo a ideia de ruptura, tudo no grunge ia contra o que estava em alta na época. Os shows prezavam pela simplicidade do palco, com nada além da banda, e buscavam focar apenas na música. A estética dos músicos também não contava com grandes produções – muito pelo contrário! -, e seus “figurinos” eram constituídos basicamente por jeans rasgados, camisas de flanela (normalmente xadrez), e um belo tênis sujo e surrado. É provável que o hábito de lavar os longos cabelos não fosse muito comum, visto que eles apresentavam sempre um aspecto meio desgrenhado e oleoso.
O som grunge teve seu boom em 1991, com o lançamento dos álbuns “Nervermind” (Nirvana), “Ten” (Pearl Jam) e “Badmotorfinger” (Soundgarden) – todos por selos independentes. O sucesso dos LPs (sim, isso mesmo!) foi tanto, que os holofotes da mídia saíram de Los Angeles e Nova York e se voltaram para a fria, chuvosa e cinzenta Seattle.  Naquele ano, o álbum do Nirvana tirou “Dangerous” – de ninguém menos que Michael Jackson! – do topo das paradas. Ficou claro para todos que uma simples manifestação artística assumia as proporções de um movimento e que o rock alternativo havia se tornado popular.
Com o suicídio de Kurt Cobain em 1994, seguido do cancelamento da turnê do Pearl Jam, o grunge começou a ver o seu declínio. Nos anos seguintes, o Alice in Chains saiu em sua última turnê com Layne Staley (morto em 2002) e o Soundgarden anunciou a sua separação. Durante a segunda metade dos anos 90, surgiu o “post- grunge” – vertente do estilo, com bandas influenciadas pelo som de Seattle, mas que não conservam a essência underground do movimento, e apresentam uma sonoridade mais suave. Este novo estilo não obteve o sucesso de seu antecessor e teve como concorrência uma nova corrente musical que surgia no Reino Unido: o Britpop.
Hoje, 20 anos depois da explosão grunge, ainda é possível escutar seus ecos – mesmo que bem baixinho. Bandas remanescentes dos anos 90 continuam a gravar e a realizar shows. Mesmo não alcançando a mesma visibilidade e popularidade de anos atrás, o ideal grunge ainda continua vivo nos jovens. Aos que duvidam, basta perguntar a qualquer vendedor de camiseta da Galeria do Rock quais são os modelos mais vendidos. Podem ter certeza de que os nomes “Kurt Cobain” e “Nirvana” vão aparecer entre os temas citados. Já repararam na quantidade de estampas xadrez nas vitrines das lojas? E os adolescentes, continuam revoltados? Pois é.
O grunge era gente deslocada falando para gente deslocada, vendendo a ideia de que “somos nós contra o mundo e juntos, podemos fazer alguma mudança”. Com esse pensamento, o estilo conseguiu mudar o cenário musical, a cultura pop e o comportamento da juventude, e se concretizou como a última grande revolução do rock. Por se tratar de uma concepção universal e atemporal, o ideal grunge pode ser compreendido ainda nos dias atuais e talvez seja justamente por isso que Kurt Cobain continua sendo um ícone para os jovens e adolescentes e as motivações e ações da geração grunge permaneçam presentes em suas vidas.

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